domingo, 29 de julho de 2007

Almirante Barroso

Minha materialidade é reflexo,

Luzes que sobram do regurgito das coisas.

E se for negro, índio ou coreano?

O que dizer de mim mesmo?

Eu que nunca me vi.

O que dizer do mundo reluzente?

De existência apenas no que é claro e sol,

Eu que nunca o vi.


Ando pelas ruas, passos desconexos,

coleciono as migalhas luzidias que sobram.

Edifico abstrato, sedimento devaneios.

Porque assim é preciso para que se viva.

domingo, 15 de julho de 2007

Proesia


Caminha depressa

Caminha depressa, guria.

Que o mundo atrás de ti vem.,

depressa, não nega,

Não poupa ninguém.


Anda guria,

anda que atrás de ti vem

Tua mãe, tua avó, tua tia, tua prima....


Anda guria que atrás de ti vem.

Serás só mais uma,

Na terra... ninguém.


Não olhe pra trás,

Não mova, não fale...

Só corra, menina.

Pra onde?

Não sei!


Por que?

Não sei, menina.

Anda depressa.


Menina pára, se vira, olha...


Hoje tem três filhos, um cachorro, uma casa no campo; se chama Cecília de Castros Barcelas, nome de casada, e tem uma poltrona muito confortável onde se senta todos os dias esperando a morte chegar. É a mais bonita estátua de sal que já vi.

sábado, 7 de julho de 2007

Pteridófitas by Night


Se fosse verde e inerte,

Talvez restasse plenitude

E o sol, por si só, bastasse


Mas não,

nem verde nem inerte.

As pernas levam pelo mundo,

e o sol, por si só, não basta.


Talvez, por simples analogia,

se fossem comparáveis os jardins,

diria que na alma dos homens só nasce discórdia.

Derrelição.


Que inveja, pteridófitas,

que sobre os olhos da indiferença

encontram a felicidade.

Nascem, crescem e morrem, satisfeitas, à luz.


Aos homens, a plenitude é negada

O riso, por si, só não basta...

O gozo, por si só, não basta...

Os sonhos, por si só, não bastam...


Pessoas discutiam na mesa do bar,

o povo fugia pra rua,

os cacos, os socos, os tiros,

tudo fora de seu lugar,

menos a samambaia

que continuava a sonhar.

 
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